domingo, 19 de agosto de 2012

Árvores da Violência


Meia hora depois de observar a tela em branco aqui, percebi que talvez estivesse caminhando para mais um texto de caráter pessoal. Mas ao mesmo tempo não posso deixar de atentar para o risco de acabar me repetindo. Afinal só o que importa são os temas cujos meus problemas tem relação? Certamente que não. Existe muito mais coisa por aí. O mundo é muito maior e muito mais plural do que imaginamos. Nada mais sensato, portanto, do que começar a escrever sobre algo que realmente fará diferença nessa sociedade.

Dia desses, em uma aula da faculdade, um professor deu uma aula espetacular. Mas ao mesmo, eu não me lembro de ter saído tão deprimido de uma aula. Por mais sensacional que tenha sido, ela proporcionou o chamado choque de realidade. Um daqueles momentos não muito legais, que você percebe que o mundo é um pouco mais feio do que você pensava. E isso lhe tira as esperanças.Não por coincidência, a semana foi envolvida por inúmeros casos de violência urbana (que meio que era o tema da aula, embora não explicitamente). Assalto, homicídios, coisas terríveis acontecendo em todo lugar. E lembrei que o que me tirou as esperanças, foi por ter ficado muito claro que não existe solução imediata para essa questão. Aumentar o tempo de pena pelo crime não vai impedir ninguém de continuar roubando e matando. Existe a maior fiscalização e policiamento. Isso resolve, mas não resolve tudo.

Imaginemos algumas sementes como sendo a fonte da violência. Ela são implantadas em certos lugares, e então germinam. Com o policiamento e fiscalização, só se garante que os galhos das árvores não invadam nossas janelas, nossas casas. Mas elas vão continuar lá, imponentes. O que se tem que impedir, é que as sementes sejam plantadas. O que é muito difícil, porque as árvores da violência dão frutos, e deles, caem novas sementes. São muitas para que sejam erradicadas de imediato. Leva tempo, trabalho, dedicação. 


Levando esse exemplo para a sociedade, basta dizer que não adianta entrar metendo bala nas favelas, ou nos bandidos da rua. Isso é catártico para nós, cidadãos revoltados. Mas não resolve. O que precisa, é de uma mudança de conscientização, mudança de costumes, mudança cultural. Pessoas roubam porque não têm. Não têm porque não conseguiram achar meios honestos para ter. Que meios honestos seriam esses? Dinheiro. De onde vem o dinheiro? Do trabalho!! Mas essas pessoas mal estudaram, como então ter um bom emprego? A sociedade exclui. E elas são aquelas que ficaram excluídas das possibilidades. Depois de passar uma semana sem comer, sendo tratado com desprezo pelas pessoas que passam do seu lado, você quer mais é que se dane. Você vai roubar. A sociedade não se importa com você, então você também não vai se importar mais com que a sociedade pensa.

Para ter um castelo da paz, você precisa de bases. Precisa das fundações. Elas ainda não existem. É preciso investimento em educação e emprego para as pessoas desde agora. E isso mirando uma mudança significativa para daqui a 20, 30 anos. NADA será resolvido de imediato. Pessoas precisam de emprego e de estudo. Para poderem ganhar dinheiro, para não precisarem roubar.

O nosso futuro é a nossa luz no fim do túnel. A paz que tanto buscamos chegará tardiamente, mas chegará de forma plena. Nós jamais podemos nos entregar, nem ficar impotentes diante do mal presente na sociedade. Não iremos desistir jamais. Mas temos que saber que nossa luta será dura, e será demorada. Com a violência, nunca se promoverá a paz. Pelo menos não uma paz completa. Mas transformando as fundações do mal, em fundações do bem, aí sim, teremos bases fortes.

Por mais que o mal seja mais exposto nos noticiários, por mais que a violência, a miséria, venda mais jornais, é pelas notícias de boas ações que eu me emociono mais. Podem haver 20 manchetes ruins. Mas umazinha que seja, de uma boa ação, é capaz de me fazer sorrir e restaurar minha fé na humanidade. O mal tem hora para acabar. E o bem não para nunca de crescer.

Só para terminar, deixo o link de uma música que não consigo parar de ouvir. Ela é de Edy Rock, dos Racionais MCs, e tem a participação especialíssima de Seu Jorge, no refrão. Ela se chama "That's My Way":

"Eu gosto de pensar que a luz do Sol vai iluminar o meu amanhecer. Mas se na manhã, o Sol não surgir, por trás das nuvens cinzas tudo vai mudar! A chuva abraçará e o berço vai se abrir. A luz de um novo dia sempre vai estar pra clarear você, pra iluminar você, pra proteger, pra inspirar e alimentar você."

Um comentário:

Nanda Paes disse...

É meu amigo, o ato de refletir, ás vezes, nos deixa abalados com a conjuntura. Porém, é essencial para nossa vivência aqui até levar esse choque, não estamos aqui a passeio, cada um tem um papel para desempenhar, você por exemplo, está em um curso - eu também estou - que deveria garantir a justiça, e muitas das vezes é onde falta. Desistir não vai ajudar em nada, o que nos garante a condição emocional de viver é lembrar que não existe só o mal, o bem está ao lado e que você pode ajudar com sua consciência, posicionamentos e atitudes, nossos problemas são antigos e complexos, o imediatismo destrói nosso povo. Contudo, se não começarmos já, a fazer o bem que está ao nosso alcance, realmente nosso amanhã nunca será melhor! Parabéns pelo texto!

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