Lazer: eis um direito social cada dia mais
violado por um modelo burocrático imposto sobre nossas mentes. Pra piorar, é o
próprio trabalhador que se subordina ao sistema ao tornar-se alvo de seus
próprios interesses e ambições, estimuladas pela ideia da conquista de status
social, quase sempre ligada à materialidade, ao consumo, como se a vida se
resumisse a vitórias profissionais, conquistas materiais. É o império do ditado
“tempo é dinheiro”, em que as pessoas estão sujeitas a um modelo social, aquele
sistema controlador e burocrático, que resume suas vidas a tarefas
profissionais. E este modelo é o mesmo que vende o entretenimento televisionado
- ou na internet e meios tecnológicos diversos - como lazer.
Escravas do sistema e alienadas ao consumismo,
as pessoas trabalham para consumir um “lazer” que não retribui a elas o que
realmente deveria – e se espera – se de fato fosse lazer. A indústria do entretenimento tem seduzido o trabalhador/consumidor
a partir de possibilidades de sensações adequadas para sua satisfação. Porém,
são apenas sensações, ilusões, de que aquilo que se vê está sendo sentido.
Talvez você não esteja entendo o que quero dizer, mas sendo claro e direto: é
como se outros estivessem fazendo por você aquilo que quem deveria estar
fazendo era você. A televisão vive o lazer com seus personagens felizes e todo
aquele cenário montado para que isso ocorra, e a sensação que temos é de que
estamos satisfeitos em ver, simplesmente. Tudo isso para que você tenha um
“tempo” para lazer, mas não se desprenda de suas atividades. Na lógica do
sistema, ganhar tempo é fundamental, e sair pra ter lazer consome o precioso
tempo.
A televisão, por sua penetração na mentalidade social através de elementos psicossociais - e a fascinação produzida por suas “obras” – é uma influenciadora quase que em totalidade da organização da vida social, sendo uma difusora de “cultura” – da cultura que ela bem entender, lógico – e um veículo de alienação. Nesta perspectiva, a mídia encontra-se em lugar relevante como possibilidade de preencher o tempo livre das pessoas. No entanto, ainda que a mídia tente transmitir o contrário, devo dizer: a televisão e seus tentáculos midiáticos não podem ser encarados como substitutos do lazer.
Agora, é claro que a televisão encontra muito
espaço para se reproduzir como lazer muito pelo fato de que para muitos
trabalhadores, principalmente para os menos qualificados, lazer é um gasto além
das despesas necessárias; e a televisão acaba por ser o meio mais fácil
consegui-lo. Levando-se em conta os baixos salários, que mal cobrem as despesas
essenciais, não há como usufruir de espaços que propiciem lazer propriamente
dito. Mesmo nos espaços públicos livres é preciso dinheiro: transporte, um
lanche, enfim, tudo é um gasto além da conta para não quem tem nem para o essencial.
Neste caso, lazer é quase que um sonho de consumo. O indivíduo trabalha todos
os dias para, quem sabe um dia, conseguir dinheiro suficiente para aproveitar
algum tempo com sua família e possibilitado de usufruir do seu direito de
lazer.
Enfim, lazer é o tempo que o ser humano tem
para pensar em si mesmo. É fundamental dar condições dignas aos trabalhadores,
e isso depreende a necessidade do ser humano ter um tempo totalmente
desvinculado de seu trabalho e também ter remuneração suficiente para
aproveitá-lo. O lazer deve ser visto como um momento oposto ao trabalho, onde o
ser humano se desprende de suas obrigações e tarefas para descansar,
divertir-se e, sobretudo, desenvolver-se socialmente.